23 outubro 2010

Carta a José Sócrates

Uma senhora escreveu ao nosso Primeiro-Ministro…

Carta ao Primeiro Ministro

“Exmo. Sr. Primeiro Ministro,

Nunca tomei a iniciativa de lhe escrever. No entanto, as notícias dos últimos dias têm-me feito reflectir um pouco.

Acredito que esta carta não chegue às suas mãos, mas acredite que vai circular pelo País inteiro, de modo a, mais uma vez, os cidadãos reflectirem sobre a vergonha que é o nosso País, ou melhor, a vergonha que são os nossos governantes.

Fiquei indignada com várias coisas, mas comecemos pelo princípio. Pelos vistos, vou ficar sem Abono de Família da minha filha que lhe era atribuído todos os meses. A "barbaridade" de € 11,26 ... que em tempos de dificuldade ajuda a matar a fome (note-se que estou a ser irónica). Pensará que para receber este valor recebo um grande ordenado. Pois está enganado, entre mim e o meu marido chegamos aos € 2.000 mensais. O que hoje em dia são ordenados miseráveis, e tendo em conta que tanto eu como ele somos licenciados.

Isto porque tenho um património no banco valorizado em mais de € 100.000. Este património deve-se à especulação imobiliária exagerada que se tem vindo a exercer nos últimos anos. O mesmo património que o banco me deu a possibilidade de pagar em 45 anos. Ou seja, hei-de morrer antes de poder dizer que o património é realmente meu, e que me custa imenso a pagar todos os meses. Mas, vá lá, ainda me sobra dinheiro para a comida, não posso é fazer gastos "desnecessários" durante o mês com o risco de poder ficar sem dinheiro no tempo que me resta até receber novo ordenado. Quando falo em gastos desnecessários falo de comprar roupa para a minha filha, ir a médicos particulares, pois a saúde na zona do interior está uma autêntica miséria: Hospitais a quilómetros de distância, maternidades fechadas, não há consultas de especialidade. Enfim!

Mas, estou a afastar-me do assunto principal.

Diga-me, Sr. Primeiro Ministro, como pensa dinamizar a natalidade em Portugal, um "País de Velhos" como lhe chamam alguns?! Neste momento, estou grávida do meu segundo filho. Também está a pretender retirar-me a isenção no Hospital e no Centro de Saúde e o Abono Pré-Natal. Tudo por causa do património que não é meu.

Agora vejamos, para além disto também vou receber menos de ordenado, pois vão-me retirar 1%, nos subsídios igualmente e sobe o IVA.

Mas, Deus seja louvado, a partir de Setembro vão voltar a distribuir os Magalhães aos meninos da escola. As nossas crianças não ficam mais inteligentes, não aprendem nada de novo, e melhor ... os computadores não são utilizados na sala de aula. Para que servem então?!

Estou eu, como milhares de contribuintes, a pagar por um brinquedo.

Estamos todos a pagar por uma crise que não foi criada por nós. Tudo se deve à má gestão dos governantes presentes e passados. Porque têm de ser sempre os mesmos a pagar as dívidas? Eu já tenho as minhas, as do banco, daquele património que não é meu. Porque tenho eu de pagar as dívidas dos outros?

Não falando em postos de trabalho precários, ordenados miseráveis, um número infindável de desempregados, idosos com reformas vergonhosas.

Todas estas pessoas, Sr. Primeiro Ministro, são lesadas com as suas medidas para baixar o défice, situação provocada por vós.

O pagamento nas SCUT é uma situação que não me lesa directamente, nem tão pouco a subida nos transportes públicos, pois como lhe disse antes, vivo no interior. Mas estou solidária com as pessoas que, mais uma vez, têm de reduzir o seu nível de vida, muitas das vezes já sendo ele bastante baixo, para pagar uma factura que não é deles.

Não vou falar dos ordenados dos governantes, nem das regalias, nem das reformas de alguns, nem das reformas acumuladas de outros, dos automóveis ao serviços oficial, nem dos absurdos do TGV e terceira ponte sobre o Tejo ... não vou falar agora disso, pois há outra questão que me indigna profundamente.

Não querendo ser racista, mas correndo o risco de assim o parecer, a minha questão é esta, Sr. Primeiro Ministro: em todas estas medidas de contenção, diga-me, por favor, como fica a situação da etnia cigana?

Porque em nada contribuem para a economia ou desenvolvimento do País, não trabalham, não vão à tropa, têm casas "à borla" (e ainda se queixam de não ser ao gosto deles), não fazem descontos como muitos idosos que trabalharam uma vida inteira para agora terem uma reforma miserável, vendem nas feiras livremente e ainda recebem Rendimento Mínimo de Inserção ...

Diga-me, Sr. Primeiro Ministro, em que são lesados estes cidadãos do mundo (como eles próprios se intitulam)? Em que base contribuem ele para a descida do défice?

Recebendo estes senhores os subsídios em Portugal não são eles, como cidadãos portugueses, também obrigados a pagar esta factura que nos está a custar a todos, ou melhor dizendo, a alguns?

E ainda diz o Sr. Primeiro Ministro, ou alguém do seu gabinete, que estas medidas são para fomentar o equílibrio e a justiça social. Só se for no seu mundo de fantasia!

Sem outro assunto de momento, sou
Uma cidadã Portuguesa!”

Esta senhora escreveu uma carta com que eu, na maioria, concordo. À excepção do facto de ter colocado os ciganos todos no mesmo molho. Há os bons e os maus ciganos como em todas as etnias.

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